segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Calma, micronacionalismo, ainda não é o Apocalipse!

Há cerca de 13 anos eu entrei para o micronacionalismo e desde então confesso que o ímpeto não é o mesmo. Não que ele tenha diminuído, não mesmo, mas mudou, se tornou mais cuidadoso, mais ponderado. Já de algum tempo tenho tomado uma postura de observador no que se dá dentro deste nosso interessantíssimo hobbie.

As mais tradicionais nações da lusofonia tem apresentado inegável dificuldade em manter uma atividade estável. Nâo é mais o tempo de milhares de mensagens por mês. Tratados vem e vão, e poucos, senão nenhum ,são respeitados no longo prazo, sequer até em médio. Nos entregamos ao efêmero ao invés de constituirmos algo que seja duradouro.

Muitas novas nações surgem enquanto isso, porém, absolutamente carentes de substância, de um projeto factível. Coroas e cadeiras presidenciais deixaram de ser elementos de responsabilidade extrema e passaram a ser apenas objetos de desejo pessoal. Sempre me lembro do final do clássico do cinema “A queda do Império Romano”, com a italiana Sophia Loren, em que ao final da obra o trono romano era leiloado como um produto qualquer.

Mas sejam as nações tradicionais, sejam as novas, todas ainda patinam na formação de uma microsociedade que seja capaz de se reinventar. Ainda vivemos o micronacionalismo como se estivéssemos há mais de uma década atrás. A realidade, contudo, se tornou bastante diferente. A Internet e o internauta já não são os mesmos e por mais que sejamos resistentes temos de nos colocar ouvintes dessa mudança e não mais impositivos.

É urgente que saibamos formar novos e competentes quadros micronacionais, pessoas capazes de entender o micronacionalismo não como uma realização pessoal, mas como um valor coletivo. Aliás, aqui se encontra outro ponto crítico: para muitos uma micronação ainda é uma razão de autoafirmação pessoal e não de realização coletiva.

Não acredito mais em one-man-nations, (já acreditei!). Isso simplesmente não existe. Uma nação de um homem só não é nada além de uma versão diferente de Age of Empires, ou algum tipo de RPG Plus, nada mais do que isso. Uma nação requer exatamente isso, UMA NAÇÃO, um corpo de pessoas que se reconheça como parte de uma sociedade, que tenha em um país uma identidade que não renuncia por cargos ou títulos – aliás, não faltam mercenários no micronacionalismo, gente que ainda vê o hobbie como um jogo de war ou coisa que o valha.

Mas calma, ainda não é nosso apocalipse, mas sem dúvidas nosso momento mais urgente. Ou absorvemos a mudança e nos reinventamos, ou morremos. Não se trata, claro, de abraçar a mediocridade, a falta de trato com o outro ou o “quem pode mais, chora menos”, mas de entender que precisamos ter uma visão coletiva sobre os destinos do micronacionalismo lusófono. É mais do que imprescindível que saibamos sim manter a essência, mas mesclando-a a novas fragrâncias.

O tempo passou, o mundo mudou e precisamos acompanhar as mudanças, porém não rendidos por tais passagens, mas cientes de nossa responsabilidade em manter vivo esse hobbie, que para tantos significou tanto.

Labrus Peregrinus.
Patriarca da Casa Peregrina

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

No micronacionalismo lusófono emerge uma nova tradição: o novo

Dentro do micronacionalismo são várias as teorias sobre o que move a atividade de uma micronação: polêmicas nos foruns e listas, política, cultura geral ou, especialmente de modo mais recente, economia. Cada uma dessas possibilidades traz consigo pontos fortes e pontos fracos, mas tratar deles, nesse momento, não é o foco dessa publicação.

É fato inconteste que o Internauta de hoje não é mais aquele de 2002, ano de ouro na lusofonia, aquilo passou! As prioridades mudaram na velocidade das redes sociais, do amadurecimento dos adolescentes de 12 anos atrás, hoje adultos. Tudo mudou e continua a mudar e não será o mundo a mudar conosco, mas nós a mudar com ele. Dito isso, podemos especular sobre, então, o que moveria uma micronação hoje, com os diferentes apelos atuais.

O micronacionalismo precisa perceber essa mudança não como seu maior obstáculo, mas como sua maior possibilidade. Não podemos praticar, hoje, exatamente o mesmo micronacionalismo que há 10 anos atrás. Conservar o que é bom, é sábio e dignificante, mas viver conservado num tempo que não mais existe é tão tolo quanto suicida.

Espernear sobre a qualidade do internauta, inclusão digital ou coisa que o valha, também não resolve. É hora de saber construir o novo a partir do novo. Seria isso uma perda de referenciais históricos do micronacionalismo lusófono? Longe disso. Se trata de aproveitar nossas potencialidades tradicionais para edificar novas conquistas em um novo e desafiador ambiente.

Porém – e sempre há um porém – as micronações de modo quase que generalizado, padecem de um mesmo e grave mal: boa parte não possuem um núcleo duro, enfim, súditos ou cidadãos que não se imaginam em outra nação que não aquela em que se encontram. É fundamental que toda micronação conte com o que eu chamaria de uma “reserva-geratriz”, pessoas que estarão ali até o fim, que seguirão com o projeto não importando quão grande é a crise, o quão grande é o desafio.

Enfim, caros leitores, o que tento expressar nesse post é a necessidade premente de que as nações busquem reconhecer essas “reservas” e façam uso delas para fortalecer o núcleo da Nação, o qual deve chamar para si a responsabilidade por formar os novos quadros micronacionais. Assim sendo, pouco importam polêmica nos foruns e listas, política, cultura geral ou economia micronacional. A chave da real atividade, aquela que persiste, reside na fusão entre a tradição e o novo.

É necessário, assim, consolidar aquela que talvez seja a chave principal para esse debate, ou seja, a noção de que a tradição dará um sentido para o novo, mas será este quem determinará o caminho final, o verdadeiro futuro do micronacionalismo lusófono.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A selvagem lusofonia e a lembrança de tempos mais elegantes…

O dia à dia em uma micronação pode se mostrar mais arredio que a mais perigosa das selvas. Não é de hoje que o micronacionalismo lusófono se comporta como um tipo de horda bárbara, é gritante a confusão entre o debate, a disputa intelectual e ideológica e a mera grosseria, a mais lamentável falta de classe.

São monarcas jogando a Coroa ao chão e rompendo a dignidade do trono, apenas pela mera tentação a um “bate-bocas” sem propósito. São presidentes que simplesmente nada presidem além da própria vaidade, mas tudo bem, tentemos não ser tão apocalípticos, há também boa vontade, decência e respeito. Ainda há: aproveitemos!

A questão que move esta publicação, contudo, vai no sentido de que o micronacionalismo tem sido, no mais, reduzido a um tipo de clube no qual a essência da simulação, da formação de uma estrutura de Estado e de Nação tem sigo relegada à um segundo, ou até terceiro plano. Segue em destaque apenas a disputa pessoal, a luta pelo eu em total detrimento à luta pelo país.

Não se vê com entusiasmo, a estratégia, a diplomacia, a política e a vida civil e oficial que deveriam a priori estar no cerne da atividade micronacional. Ou tudo vira uma empresa júnior de direito, possuída por uma verborragia legal que beira à esquizofrenia, um mercado das pulgas, ou um simples “lamber de botas” de um para com o outro na tentativa da ascensão não pelo mérito, mas pela simpatia pessoal.

Enfim, desculpe caro leitor se não esbanja otimismo essa publicação, mas para crescer é fundamental, aliás, vital reconhecer quando uma prática não mais funciona. O micronacionalismo de língua portuguesa tem se perdido, a passos largos, na bravata, no personalismo e num comportamento até patológico que sugere esquecer o respeito ao próximo, a decência das ações e a honra pessoal e coletiva se tal abdicação reverberar em algum título, honraria ou vã forma de poder.

Talvez a lusofonia precise de um choque de realidade, para que se entenda que a selvageria que muitas vezes parece ter se apossado deste hobbie seja compreendida não mais como possessão, mas sobretudo como uma escolha equivocada que fizemos e que precisa ser revista. É fundamental a gentileza, é fundamental, a educação, é urgente que questões pessoais se resolvam nesse ambiente, pessoal, privado, sem o uso da Nação como centro à lavação da roupa suja.

O micronacionalismo precisa ser respeitado? Evidente que sim! Mas para tal é preciso que ele primeiro se dê ao respeito e se somos nós os seus constituintes, então é um respeito que temos de passar a ter, a estimular em nós e no seio de nossos países para que, talvez um dia, possamos voltar a ter aquele antigo brilho, aquele altivo orgulho em dizer que sim, sou um micronacionalista.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina