sábado, 23 de março de 2019

Um Rei deve ser o primeiro a servir, não a ser servido

Quando Roma nasceu, por volta do século VIII a.C, ela não era nem sombra do Império intercontinental que se tornaria no seu auge, no século II d.C, englobando áreas da Europa, África e Ásia. Em seu começo, a poderosa cidade nada mais era que um vilarejo de agricultores na região do Lácio, na Península Itálica, às margens do Rio Tibre. Mais do que liderar ou controlar, Roma foi, antes, controlada pelos Etruscos por mais de dois séculos.

Talvez esse caminho percorrido pela civilização romana possa ensinar algumas lições no campo da liderança micronacional, especialmente considerando a volatilidade com que projetos são criados e líderes são autoproclamados.

Como liderar sem inspirar? Como conduzir sem ter conhecimento real do caminho? Como representar o poder sem que se entenda a real dimensão de sua responsabilidade? Claro, as respostas possíveis a estas perguntas podem ser várias, dependendo do interlocutor e da motivação do mesmo. Porém, se mesmo Roma começou pequena, simples e sendo conduzida, como acreditar realmente que se pode conduzir alguém ou a algum projeto sem qualquer conhecimento anterior?

Confesso que sou no mínimo reticente quanto a lideranças micronacionais que já surgiram neste hobby como reis disso ou príncipes daquilo. Não me parece confiável uma liderança que não entenda realmente o que é ser liderado, ou como dizem, como é "estar do outro lado do balcão". Como eu poderia ter alguma dimensão minimamente plausível do que um cidadão ou súdito precisa se jamais estivesse estado na posição deles?

Veja, caro leitor, o argumento é simples, porém não é desprezível. Observando a história do micronacionalismo, os líderes mais tradicionais já foram súditos ou cidadãos ou mesmo turistas de outras micronações, já estiveram sob autoridade, antes de personificarem alguma autoridade. E mesmo quando alçaram ao poder soberano, os que o fizeram com solidez, só o conseguiram com apoio de outros indivíduos que acreditaram naquela liderança e no que ela significava em relação ao projeto que abraçavam.

Há pouca liderança onde não há o tempo do crescimento. Não há inspiração em quem só conhece, de fato, uma única posição e visão de mundo, um único lado no jogo do poder. No plano micronacional, pular etapas de conhecimento e desenvolvimento é um erro crasso para quem pretende liderar, conduzir e inspirar.

Que direito tem um Rei, à Majestade, ou um Presidente, à Excelência, se não foi capaz de se colocar humildemente sob a liderança de outro, sob a inspiração de uma história?

É hora de entender que a liderança, a autoridade, a majestade e a excelência não são coisas que podemos exigir de quem quer que seja, são qualidades que só o tempo e a humildade do aprendizado nos permite envergar, são bens mais valiosos e pesados do qualquer coroa.

Como disse Virgílio, "Roma non uno dies aedificata est" (Roma não foi edificada em um dia).

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina
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