sábado, 5 de novembro de 2011

Diplomacia e atividade micronacional: muito além do senso comum

Olhe à volta, quantas micronações você vê na lusofonia? Certamente poucas, aliás, pouquíssimas. Se reparar cuidadosamente a história desse hobbie em nosso grupo linguístico deverá ser claro que tal cenário, muito mais do que uma mudança no perfil do internauta, é fruto de relações mal construídas, política diplomática equivocada e um certo nível de inabilidade ou mesmo ingenuidade na condução do Estado micronacional.

Em outras edições deste periódico sem periodicidade, destacamos como, por exemplo, a diplomacia micronacional é feita a tapas, quando deveria ser feita de modo racional. Como se diz, Estados são criações humanas, porém nem por isso são, aqueles, humanos. Não podemos perder o foco, o pragmatismo e acima de tudo o profissionalismo necessário para perceber, de modo claro, que mesmo no universo micronacional, o Estado Nacional tem uma agenda própria que independe do orgulho ou do que sente este ou aquele.

A capacidade do conflito como gerador de atividade é totalmente limitada, é o que seria conveniente destacar como um crescimento “não sustentável”. Da mesma forma, qualquer atividade baseada apenas em relações pessoais, ou pior, personalista, tende a não se sustentar, colocando toda a Nação em risco das chamadas “crises”. Assim, seguindo o bom e velho ditado popular: “nem muito ao céu, nem muito ao inferno”. Equilíbrio ainda é a palavra chave para sustentar uma Nação de modo estável, e que independa de movimentos periféricos.

Se uma Nação depende da atividade de outra para a sua, é fraca. Se um Estado precisa da intervenção em outro para garantir o seu nome, é igualmente fraco. É forte o Estado Nacional que depende de si, de sua própria dinâmica, um Estado que, portanto, seja capaz de validar-se no valor da sustentabilidade de sua atividade. Isso pressupõe, entre outros, a diversificação dos motores que geram a movimentação nacional, não é permitido vícios de atividade.

Da mesma forma, uma Nação não pode depender deste ou daquele indivíduo singularmente ativo, mas sempre do conjunto e, acima de tudo, da vontade de seu Chefe de Governo e Chefe de Estado. Basear a atividade micronacional de forma personalista, identificando-o sempre aos mesmos atores, pode se mostrar um erro capital para o país. Assim, mais do que atividade numérica, a Nação deve trabalhar para consolidar uma atividade de grupo, uma movimentação que se mostre plural sobre os elementos que dela participam.

Intervencionismo, polemizações, personalismos são verdadeiros cânceres que tem levado a termo várias micronações lusófonas, muitas das quais, até seu fim, julgavam-se em posição inatingível. É urgente aos Estados Nacionais que, na lusofonia, pretendem sobreviver, promovam uma completa reordenação de seu quadro diplomático construindo uma nova relação com as demais Nações, bem como que entendam a atividade como um conceito amplo e que, igualmente, depende de ações amplas para sua promoção e não apenas de fatos isolados, de movimentos externos ou intestinais.

O micronacionalismo é mais do que disputas externas, transcende a relação meramente pessoal, ele se estabelece na formação de uma sociedade complexa. Se, como dissemos em outra edição, a diplomacia micronacional não pode ser realizada a tapas, também o hobbie, como um todo, não poderá se sustentar de igual forma.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cidadania de papel, lealdade efêmera: o estranho patriotismo micronacional

Após quase 10 anos neste inebriante e ao mesmo tempo deliciosamente perturbador hobbie, há uma faceta micronacional que ainda escapa a uma explicação que satisfaça: a extrema volatilidade do sentimento de apego a pátria micronacional. É um tanto desconcertante a forma totalmente natural com que se altera a própria microcidadania.

Enfim, no macromundo não é exatamente uma tarefa simples mudar de cidadania, se trata de um procedimento burocrático considerável, mesmo nos casos em que é permitida a dupla-cidadania, como no caso da República Italiana macronacional e seus descendentes. Se você nasce brasileiro, dois sentimentos, ou ainda, duas experiências correlacionadas se colocam: o patriotismo, que pode ser resumido como um sentimento pessoal de apego à terra de origem, e o nacionalismo, que se trata, grosso modo, do sentimento de pertencimento a uma realidade social comum estabelecida na cultura, história e geografia comuns.

Mas e no micronacionalismo, como essa relação de cidadania e lealdade para com a pátria se estabelece? Mais ainda, será que essa lealdade sequer existe? São perguntas que não esgotam seu valor, aliás, que se colocam como dilemas de ordem ética e também moral, partindo do pressuposto de que seja, essa última, um elemento social, coletivo.

No micronacionalismo é de uma facilidade assustadora a transição da microcidadania. Um dia você é cidadão da Nação A, jurando lealdade, trabalho, compromisso, etc e, no dia seguinte, por qualquer razão, algumas fortes é verdade, mas tantas outras frágeis e quase injustificáveis torna-se o mais "leal" defensor da Nação B e, quando menos se espera, de C. Se trata de uma lealdade inquietantemente efêmera, uma cidadania de papel que se desfaz a qualquer caso.

Este que aqui escreve, também já teve seu momento de efemeridade nacional, quando deixou uma nação e fundou outra. E não sem alguma culpa, ocupo-me de refletir vez ou outra sobre a procedência das causas que levaram a tal decisão. Enfim, se você é perseguido em seu país, é seu direito ir para outro, afinal, é saudável que esteja onde o querem. Porém, se enfrenta algum desafio em sua nação de origem, por que não ficar e lutar? Afinal, não estamos todos a trabalhar, de alguma forma, por nossa macronação? Não somos todos partícipes, ora concordantes e no mais das vezes discordantes de uma mesma realidade macronacional? A Internet não pode ser o pretexto para a fraqueza de suas convicções, nem para a fuga indiscriminada de uma realidade micronacional para outra.

Essa transitoriedade, aliás, essa volatilidade das microcidadanias precisa ser repensada. É preciso que saibamos identificar, de forma concreta, nossa micronacionalidade. Quem serve a dois senhores, serve a nenhum, e o mesmo vale, creio, aos países. Assim, deixo esta discussão que não se esgota, mas prossegue como um questionamento ético, moral mas, acima de tudo, nacional. A lusofonia precisa, urge por compromisso, e esse não pode coexistir onde a lealdade seja apenas um discurso, e não uma prática inconteste.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina

terça-feira, 19 de julho de 2011

Micronacionalismo e Microcomunidade: semelhanças e diferenças

Um dos maiores equívocos que podemos elencar no micronacionalismo, talvez seja a confusão que se faz entre o que é uma micronação e o que é uma microcomunidade. Enfim, não foram poucas as nações virtuais que proclamaram sua independência quando na realidade eram apenas microcomunidades, uma reunião de amigos tratando de tudo, menos questões típicas de um Estado Nacional.

Vamos entender a diferença: numa micronação há o elemento Estado, o qual tem uma razão e funcionamento próprio que depende de um mínimo de oficialidade, que encerra pois um conjunto de procedimentos de ordem legal e que deve ser seguido. Já uma microcomunidade seria algo próximo de um simples grupo do Orkut - e nesse ínterim, não incluímos micronações orkutianas, as quais possuem a instituição do Estado -, enfim, um grupo organizado ou não de amigos, contatos profissionais ou correlatos que discutem todo tipo de amenidade.

Definido, bem grosso modo, é verdade, cada idéia, cabe agora destacar as semelhanças entre ambos. Pois bem, consideremos que uma Micronação possui então um Estado que a representa e governa, porém, no sentido mais amplo, a Nação é também um conjunto social que se reconhece, logo, há aqui incluído também o conceito de microcomunidade. Nâo há como existir uma micronação, de fato, sem uma microcomunidade que nela se reconheça, ou ainda, que reconheça o Estado que a representa.

Assim, a relação que se estabelece entre micronação e microcomunidade é, sob esta análise, tão fundamental quanto a existência de um Estado num país virtual. Se trata de um binômio que não pode ser violado, sob pena de que o micropaís se torne mero cartório, cheio de atos oficialescos, ou um mero bate-papo, acéfalo e sem direção.

Porém, as diferenças que se colocam entre os dois conceitos, micronação e microcomunidade, é que são responsáveis por grandes enganos no micronacionalismo lusófono. Imaginem uma micronação que não dá espaço para um pouco de informalidade, onde as pessoas não conversam, não trocam idéias, apenas publicam ofícios e mais ofícios, leis e mais leis, enfim, um mero depósito de oficialidade. Num tal cenário inexiste uma micronação, pois assim como no macromundo, num país, para além dos atos oficiais existe a vida civil e ela precisa ser garantida.

De outra via, imaginemos a situação de uma micronação onde tudo o que ocorre são amenidades, onde os membros do Estado não usam dos corretos pronomes de tratamento. Enfim, seria como se não mais existisse a autoridade do Estado, a qual pela lisura deve ser impessoal. Viveríamos, em tal situação, num império da pessoalidade, mais ainda, personalista. Não haveria mais a separação de fato entre o que é público e o que é privado, inexistiria aqui a Nação, subsistindo apenas a comunidade e no caso mais grave, o egoísmo.

Enfim, se o binômio micronação-microcomunidade é vedadeiro e inquebrantável, também é verdade que o império de um ou de outro é tão danoso quanto qualquer outro mal que possa afligir a prática micronacional. Não podemos nos dar ao luxo de resvalar seja no excesso de oficialidade, seja no exagero da informalidade. É preciso temperança, equilíbrio e segurança tanto para um, quanto para outro, para que ambas as situações coexistam em harmonia, sem abalar a Nação mas antes, fortalecê-la.

A idéia final: EQUILÍBRIO. Ou como no ditado popular "nem muito ao céu, nem muito ao inferno".

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina

quinta-feira, 3 de março de 2011

Simulação Inconsequente

Qual a melhor palavra para resumir a prática do micronacionalismo? Possibilidade. É um grave engano supor que, mesmo no seu caráter modelista, uma micronação seja, ipsis literis, uma simulação de relações políticas e sociais típicas ao universo macronacional. Não se trata de uma simulação, em absoluto, mas de uma outra realidade, distinta e com dinâmicas próprias.

É comum, no ambiente micronacional lusófono, a prática de transpor metodologias e realidades do mundo macro ao micro, o que configura não apenas um erro mas, acima de tudo, uma violenta agressão ao micronacionalismo. A tentativa de realizar, no universo micronacional, situações do mundo macro tem, inegavelmente, se mostrado desastrosa.

Consideremos o número impressionante de tratados e convenções completamente esquecidos ou mesmo violados sem qualquer cerimônia. A que serviu o trabalho de redigi-los? Perda terrível de inteligência e tempo. Textos tão enfadonhos e prolixos que aparentemente reduzem o micronacionalismo a uma mal sucedida empresa júnior de direito.

Longe de desmerecer nossos eméritos juristas e bacharéis, o micronacionalismo não pode ser reduzido, simplificado, à uma profusão insossa de capítulos, artigos e parágrafos que mal dizem algo útil sequer a quem os redigiu. A prática micronacional exige, e não apenas pede, uma pluralidade de ações e, acima de tudo, uma visão pragmática, em sintonia com o universo virtual, ambiente por excelência micronacional.

Porém, se nosso "câncer" se resumisse apenas a tentativa ingênua de trazer para o micro o direito macro, nossos problemas seriam simples. Não, se trata de algo mais, se trata de comportamento civil e aí remonta questões de ordem ética e moral que mereceriam longa explanação, o que não é o objeto desta publicação.

No macromundo - não é mistério - há corrupção, tráfico de influência, compadrio e toda sorte de imundícies éticas que nos fazem duvidar dos destinos de nossa macronação. Porém, será mesmo viável ou, ainda, razoável transpor tais máculas ao micronacionalismo? Talvez o caro leitor esteja questionando-se sobre a "ingenuidade" ou idealismo excessivo do autor desta matéria, porém, como num ótimo filme "idéias não morrem jamais".

Assim, a idéia de uma lusofonia que se separe das práticas macronacionais nefastas e se aproxime daquilo que agrega qualidade e atividade positiva, não pode ser deixada de lado. Esta é uma idéia que não morre nos corações e mentes de todo aquele que, com justiça, se apresenta como micronacionalista.

Não jogamos War, não somos "RPGistas", tampouco somos anões do orçamento, cafajestes ou corruptos, somos micronacionalistas da lusofonia e nossa missão moral é sustentar padrões de excelência em nosso grupo lingüístico. Não há, não pode haver, espaço para ações notoriamente - no macro e no micro - desonestas, condenáveis. O espírito que nos sustenta é, como no início deste texto, a POSSIBILIDADE de que, ainda que virtualmente, seja possível a formação de uma sociedade ideal e nativamente progressista.

Eis a regra clara e objetiva: simular o que é bom, execrar o que nos atrasa.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina