quinta-feira, 3 de março de 2011

Simulação Inconsequente

Qual a melhor palavra para resumir a prática do micronacionalismo? Possibilidade. É um grave engano supor que, mesmo no seu caráter modelista, uma micronação seja, ipsis literis, uma simulação de relações políticas e sociais típicas ao universo macronacional. Não se trata de uma simulação, em absoluto, mas de uma outra realidade, distinta e com dinâmicas próprias.

É comum, no ambiente micronacional lusófono, a prática de transpor metodologias e realidades do mundo macro ao micro, o que configura não apenas um erro mas, acima de tudo, uma violenta agressão ao micronacionalismo. A tentativa de realizar, no universo micronacional, situações do mundo macro tem, inegavelmente, se mostrado desastrosa.

Consideremos o número impressionante de tratados e convenções completamente esquecidos ou mesmo violados sem qualquer cerimônia. A que serviu o trabalho de redigi-los? Perda terrível de inteligência e tempo. Textos tão enfadonhos e prolixos que aparentemente reduzem o micronacionalismo a uma mal sucedida empresa júnior de direito.

Longe de desmerecer nossos eméritos juristas e bacharéis, o micronacionalismo não pode ser reduzido, simplificado, à uma profusão insossa de capítulos, artigos e parágrafos que mal dizem algo útil sequer a quem os redigiu. A prática micronacional exige, e não apenas pede, uma pluralidade de ações e, acima de tudo, uma visão pragmática, em sintonia com o universo virtual, ambiente por excelência micronacional.

Porém, se nosso "câncer" se resumisse apenas a tentativa ingênua de trazer para o micro o direito macro, nossos problemas seriam simples. Não, se trata de algo mais, se trata de comportamento civil e aí remonta questões de ordem ética e moral que mereceriam longa explanação, o que não é o objeto desta publicação.

No macromundo - não é mistério - há corrupção, tráfico de influência, compadrio e toda sorte de imundícies éticas que nos fazem duvidar dos destinos de nossa macronação. Porém, será mesmo viável ou, ainda, razoável transpor tais máculas ao micronacionalismo? Talvez o caro leitor esteja questionando-se sobre a "ingenuidade" ou idealismo excessivo do autor desta matéria, porém, como num ótimo filme "idéias não morrem jamais".

Assim, a idéia de uma lusofonia que se separe das práticas macronacionais nefastas e se aproxime daquilo que agrega qualidade e atividade positiva, não pode ser deixada de lado. Esta é uma idéia que não morre nos corações e mentes de todo aquele que, com justiça, se apresenta como micronacionalista.

Não jogamos War, não somos "RPGistas", tampouco somos anões do orçamento, cafajestes ou corruptos, somos micronacionalistas da lusofonia e nossa missão moral é sustentar padrões de excelência em nosso grupo lingüístico. Não há, não pode haver, espaço para ações notoriamente - no macro e no micro - desonestas, condenáveis. O espírito que nos sustenta é, como no início deste texto, a POSSIBILIDADE de que, ainda que virtualmente, seja possível a formação de uma sociedade ideal e nativamente progressista.

Eis a regra clara e objetiva: simular o que é bom, execrar o que nos atrasa.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina