terça-feira, 24 de abril de 2012

Entre o discurso e a ação: um dilema micronacional

Com certeza você já deve ter ouvido a expressão “falar é fácil, fazer é que é difícil”, pois bem, ela não poderia ser mais verdadeira no universo micronacional lusófono. Muito se tem falado sobre crise, sobre fim do micronacionalismo, etc. “Culpados” tem sido buscados e apontados. Porém, não estará a culpa justamente em todos os micronacionalistas?

Em época de crise, seja no macro ou no micromundo, o comportamento parece ser o mesmo para todos no seguinte sentido, enfim, torna-se mais fácil, aliás cômodo, apontar o dedo e dizer “-Hei! Você errou!” do que apontar para si e declarar sem medo “-Eu errei”. Enfim, se trata de uma mea culpa  que ainda não foi devidamente encarnada pelo micronacionalismo lusófono.

Observando grupos micronacionais em redes sociais como o Facebook, grupos esses que são realmente uma ótima ferramenta, vê-se um sem número de micronacionalistas e ex-micronacionalistas profetizando o apocalipse micro, e em todos os comentários é presença pródiga a acusação deste em relação à aquele. É a situação de, literalmente, saber apontar o problema mas desconhecer por completo qualquer chance de solução.

Mas calma, não se exaspere, isso é apenas uma crônica, como tantas outras que já foram escritas neste periódico e na lusofonia como um todo. Porém, o que diferencia esta publicação em especial é o fato de que ela toca sem receios na ferida: “a total inabilidade e irresponsabilidade da lusofonia para consigo”. Onde não há compromisso, engajamento, então imperará, de uma forma ou de outra o caos. De nada adianta reclamar, espernear se não chamar para si a responsabilidade pela mudança. Como diz o ditado: “muito ajuda, aquele que não atrapalha”. Sim não há mais espaço para “tapar o sol com a peneira”, é preciso ser sincero.

Você é um ex-micronacionalista, velho micronacionalista ou novo micronacionalista? Pouco importa, isso é totalmente IRRELEVANTE, o que importa é: “o que de concreto você tem feito por este hobbie?” A fase retórica já passou, caro leitor, não há mais espaço para ela, não num momento como este. É hora da ação.

Claro, é bom “politicar”, mas é especialmente melhor agir. A lusofonia de forma geral – Ex-micronacionalistas, velhos micronacionalistas e novos micronacionalistas – causou este estado de coisas. Não há inocentes, mas também não há culpados, há responsáveis, e todos somos.

Se acha que algo está errado, se entende que o atual momento requer uma virada, se percebe que já está passando da hora de agir, então levante-se! Chame para si a responsabilidade e por fim lembre-se de que nenhuma mudança significativa, de que nenhuma revolução se fará “em berço esplêndido”.

Labrus Peregrinus.
Patriarca da Dinastia Peregrina

domingo, 1 de abril de 2012

Falência micronacional e liderança fraca

Quantas micronações surgem e desaparecem? Não importa se novas ou tradicionais, o fato de desaparecerem é perturbador, afinal, como desaparece uma Nação? Bem há algumas hipóteses para esse cataclisma micronacional, porém a mais evidente parece ser a falta de uma liderança no mínimo convincente ou, melhor ainda, leal para com a micronação que lidera.

Enfim, parece emblemático que tantas nações, novas e tradicionais, simplesmente desapareçam. Quase sempre a desculpa é a de que os súditos ou cidadãos não mais se interessavam e que de repente, o “líder” havia ficado só. Mas oras, se o comandante de um exército teme perder uma batalha, como é que ele pode desejar vencer a guerra? Hipocrisia ou inconsequência, convenhamos.

Fato é que uma Nação existe enquanto haja quem nela acredite e, nesse sentido, não há desculpa viável para um líder que deixa de acreditar no próprio projeto, que não o mantém a despeito das adversidades. Se um micronacionalista deseja facilidade, deveria ter ficado com o RPG ou jogando War. Micronacionalismo é algo muito além, ele opera na construção de um sentimento de microsociedade. Vejam por exemplo que, no macromundo, você em geral pertence ao país em que nasce, se trata de uma nacionalidade de nascimento, enquanto que no micromundo, essa nacionalidade é fruto de um desejo e de uma escolha totalmente soberana do súdito ou cidadão.

Agora vejamos a questão do suposto “lider”: mais do que um súdito ou cidadão, ele é o primeiro elemento na cadeia formadora de uma micronação. De uma liderança confiável é que nasce um sentimento micronacional vivo e não apenas fruto de ocasião. Se o líder não acredita na Nação, então está tudo terminado, ele não tem direito a exigir lealdade de seus súditos ou compatriotas, não há mais o que fazer e, vale lembrar, ficar “só” não é desculpa suficiente para o abandono de um projeto.

Tenacidade não é apenas uma palavra, é um sentimento. Fibra moral não se trata de algo que se come no café da manhã, mas de uma experiência cultivada dia a dia na alma de cada indivíduo. Se alguém que se dispôs a criar uma Nação simplesmente desistir dela durante uma dificuldade, então falta a esse pretenso “lider” tanto tenacidade, quanto fibra moral. O verdadeiro líder tem o DEVER de ser o mais fiel defensor e guardião da Nação, do contrário ele desonra de modo gritante sua coroa ou o madato que lhe foi confiado.

Está só? Mantenha-se! Duvidam de sua capacidade? Pois destrua essa dúvida com trabalho. Reclame menos, faça mais. Espere pouco, crie muito. Nada de útil acontecerá apenas ao sabor dos ventos.  Um líder não fica choramingando pelos cantos, ele age, faz acontecer.

Ter uma Coroa ou um mandato micronacional é absolutamente fácil, qualquer inepto é capaz disso, no entanto honrar tais elementos, aliás, tais valores, é apenas para aqueles que entendem suas nações não como algo passageiro, mas como algo que deve se sustentar e que, por isso, não será deixada só, ainda que todos o tenham deixado.

Uma coisa parece absolutamente certa: se a lusofonia hoje experimenta a falência de tantos projetos é apenas e tão somente por que seus líderes deixaram de acreditar, deixaram de insistir, entregaram-se ao abandono, fugiram àquilo que fazia deles, de fato e de direito, líderes, ou seja: FÉ.

Labrus Peregrinus.
Patriarca da Dinastia Peregrina

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

10 anos de uma Dinastia, uma década de uma Instituição Micronacional

            Na wikipedia, família é definida como "um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção". Pois há exatamente uma década, em 09 de Fevereiro de 2002, surgia uma família micronacional, que sem medo ouso dizer que transcendeu tudo isso. Há 10 anos surgia a gens Peregrina, hoje Dinastia Peregrina.

            Surgida de um então jovem micronacionalista, aquele núcleo familiar logo se destacou, sendo o primeiro a constituir um completo web site e ambiente próprio de comunicação. Aquela família, após cerca de oito meses, surgia como o núcleo do Reino da Itália, uma das mais tradicionais e ativas micronações lusófonas. Os Falcões Peregrinos alçavam seu irresistível vôo rumo à Glória e à Honra.

            Cada Peregrino é mais do que membro de uma família micronacional, ele é defensor, antes de tudo, de uma idéia de micronacionalismo, de uma crença inquebrantável de que a lusofonia é uma ideologia possível, de que a prática micronacional não morrerá, mas se reinventará, e lá estarão estes falcões, prontos a levar esta idéia a efeito, a todos os cantos, a todos os corações.

            Passados 10 anos desde sua criação, a Família Peregrina passou à maior Dinastia reinante da lusofonia, presente nos tronos do Reino da Itália, do Sacro Reino de Pathros e do Império Alemão, além de ter representantes também no Sacro Império de Reunião e no Principado de Sofia. A Dinastia Peregrina não é mais apenas uma família, é uma verdadeira instituição micronacional lusófona.

            É assim que, como patriarca dos Peregrinos, saúdo meus filhos, irmãos, netos, bistenos e  trisnetos, é desta forma, certo do dever cumprido, que cumprimento a cada um dos grandes Falcões da lusofonia pela sua coragem, determinação e por sua honra. Vocês a cada dia honram o peso glorioso deste sobrenome, a cada dia vocês ajudam a escrever os próximos capítulos desta história plena de vitórias e inscrevem seus nomes como verdadeiros guerreiros na defesa do micronacionalismo lusófono.

            Em nossa Casa, é bem conhecida a política Peregrina que diz: "Enquanto enfurecidos os cães latem presos ao solo, os Falcões voam seguros e soberanos na paz e imensidão dos céus." Pois assim continuemos por outras décadas, determinando nossas ações sempre pela altivez, jamais à traição, agindo em defesa da honra e nunca contra ela, trabalhando em favor deste hobbie e jamais em desfavor dele.

            Durante 10 anos demos nossa energia não apenas por nossas nações, mas também por toda a lusofonia, e estou certo de que continuaremos esta missão. Mais que micronacionalistas, mais que membros desta ou daquela Nação, acima de tudo nós somos Peregrinos.

Longa vida a Dinastia!

Longa vida às Nações da lusofonia!

Labrus Peregrinus.
Patriarca da Dinastia Peregrina
09 de Fevereiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Quando a lealdade se tornou “líquida”

Imagine uma gestante, pronta a dar a luz, começam as dores do parto e a medida que estas aumentam ela grita: “-EU DESISTO!” Qual seria sua reação a respeito? Mais ainda, qual seria a sua surpresa ao testemunhar uma cena, a princípio tão insólita? Afinal, desistir de um parto seria o que? A morte da mãe ou da criança?

Enfim, por que faço essa pergunta? Simples, por que especialmente hoje parece mais fácil desistir de uma boa luta do que continuar. Se algo está errado com sua Nação o que você faz? Oras, muda de nação, simples assim! E o melhor, ainda leva junto os títulos do país anterior. Simples assim? Não exatamente, pois se leva o título mas se abandona a honra.

Calma, não se exaspere! A questão é mais simples do que parece, se trata afinal de conservar em si um senso de comunidade, um espírito segundo o qual não é possível abandonar seu país, mas ficar com ele até o fim, aconteça o que acontecer. Loucura? Não! Lealdade no sentido mais simples e ao mesmo tempo completo da palavra.

O micronacionalismo, de modo geral, parece ser o locus da lealdade volátil, basta que as coisas se aqueçam um pouco e aquele guerreiro pronto a tudo enfrentar em nome de seu país, simplesmente foge. Usando das belíssimas metáforas de Zygmunt Bauman, é uma autêntica lealdade “líquida”, totalmente adaptativa não às ordens da Nação mas ao simples interesse pessoal.

Interesse pessoal, de conservar títulos, cargos, receber favores. Interesse pessoal em partir sempre para o lado que estiver “mais forte”, afinal, para muitos ideologia simplesmente é uma palavra morta no dicionário. E assim, aquele Schettino abandona sua micronação, seu povo, seu líder tudo por que não crê num porvir, recolhe-se simplesmente à certeza de que o navio está adernando.

Enfim, abandona-se um país como um comandante que falhando às suas obrigações, abandona o navio. Talvez essa transitoriedade que o micronacionalismo contempla acabe sendo refúgio para aquele que não vê sua micronação – DE FATO – como seu país, que não vê seu governante – DE FATO – como seu líder. Abandona a Nação não por que está encerrando sua vida micronacional – o que é bastante digno e admirável –, mas por que encontrou vantagens melhores em outras paragens.

Lealdade, responsabilidade e coragem, caro leitor, não são apenas palavras, são perspectivas, sustentáculos de uma hombridade que não foi solapada pela conveniênia, provas de que acima do “eu” ainda existe o “nós”. No micronacionalismo, como em qualquer outro ambiente da vida, talvez valha à pena recordar, quando tudo parecer perdido, as palavras fortes e providenciais do oficial da capitania dos portos da Itália, Gregorio Maria De Falco, que disse: “-VADA A BORDO, CAZZO!”

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina