segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

De todas as funções micronacionais, a mais solitária

No micronacionalismo, se levada com dignidade e seriedade, poucas funções são mais solitárias que as de uma Coroa. Mesmo no universo micronacional, os deveres da Majestade são muito menos glamourosos e muito mais introspectivos. É um exercício de profunda entrega a algo maior, a Nação.

Aliás, creio que, pelo menos em um aspecto, no micro a Coroa pesa mais que no macro, pois aqui não temos nem mesmo os jantares, a pompa e a circunstância. Não temos as viagens, e as traições, essas, tornam-se muito mais simples, muito mais frequentes pois o que os olhos não veem o coração não sente, diz o ditado.

No micronacionalismo a Coroa tem o dever de manter uma Nação e a lealdade de seus súditos esquivando-se, quase desesperadoramente, dos conchavos intermicronacionais - que são muitos e degraçadamente intermináveis -, das intrigas palacianas, dos riscos de se ver só sobre uma montanha alta e solitária de sonhos, de expectativas sobre uma comunidade.

A Coroa pesa, e quem a usa e não entende o sentido disso é apenas um usurpador, uma criatura sem valor, verdadeira degeneração da honra que a Majestade deve inspirar. É, apenas, um medíocre caçador de títulos, alguém em busca de salvar a si da própria mediocridade às custas de uma ovação vazia, sem sentido, sem função.

A Majestade é coberta de títulos, de pronomes e de brasões ao tempo que, também, é inundada de um exercício constante e incansável de profunda abnegação. A Coroa realiza o que é preciso, muito mais do que aquilo que deseja, ela diz muito mais o que o dever exige do que aquilo que sua alma grita, a Coroa é um monastério interior (redundância?).

O trono é um pedaço de sonho duramente entalhado sobre o qual se assenta um sonhador, é o campo da ação, o espaço de uma oração interminável de que, ao final, tudo terá valido à pena.

Por fim, meus caros, e talvez de modo bastante desarticulado, a Coroa é um somatório de expectativas, verdadeira pilha de deveres da qual a cabeça por ela ornada não pode fugir, pois o dever é sua espinha, seu coração, sua alma.

A Coroa pesa muito mais pela responsabilidade que sente sobre os que Reina, pela fé que encerra em si em uma ideia, a de que apesar da solidão do ofício, o resultado hipoteticamente vindouro vale à pena.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina