quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cidadania de papel, lealdade efêmera: o estranho patriotismo micronacional

Após quase 10 anos neste inebriante e ao mesmo tempo deliciosamente perturbador hobbie, há uma faceta micronacional que ainda escapa a uma explicação que satisfaça: a extrema volatilidade do sentimento de apego a pátria micronacional. É um tanto desconcertante a forma totalmente natural com que se altera a própria microcidadania.

Enfim, no macromundo não é exatamente uma tarefa simples mudar de cidadania, se trata de um procedimento burocrático considerável, mesmo nos casos em que é permitida a dupla-cidadania, como no caso da República Italiana macronacional e seus descendentes. Se você nasce brasileiro, dois sentimentos, ou ainda, duas experiências correlacionadas se colocam: o patriotismo, que pode ser resumido como um sentimento pessoal de apego à terra de origem, e o nacionalismo, que se trata, grosso modo, do sentimento de pertencimento a uma realidade social comum estabelecida na cultura, história e geografia comuns.

Mas e no micronacionalismo, como essa relação de cidadania e lealdade para com a pátria se estabelece? Mais ainda, será que essa lealdade sequer existe? São perguntas que não esgotam seu valor, aliás, que se colocam como dilemas de ordem ética e também moral, partindo do pressuposto de que seja, essa última, um elemento social, coletivo.

No micronacionalismo é de uma facilidade assustadora a transição da microcidadania. Um dia você é cidadão da Nação A, jurando lealdade, trabalho, compromisso, etc e, no dia seguinte, por qualquer razão, algumas fortes é verdade, mas tantas outras frágeis e quase injustificáveis torna-se o mais "leal" defensor da Nação B e, quando menos se espera, de C. Se trata de uma lealdade inquietantemente efêmera, uma cidadania de papel que se desfaz a qualquer caso.

Este que aqui escreve, também já teve seu momento de efemeridade nacional, quando deixou uma nação e fundou outra. E não sem alguma culpa, ocupo-me de refletir vez ou outra sobre a procedência das causas que levaram a tal decisão. Enfim, se você é perseguido em seu país, é seu direito ir para outro, afinal, é saudável que esteja onde o querem. Porém, se enfrenta algum desafio em sua nação de origem, por que não ficar e lutar? Afinal, não estamos todos a trabalhar, de alguma forma, por nossa macronação? Não somos todos partícipes, ora concordantes e no mais das vezes discordantes de uma mesma realidade macronacional? A Internet não pode ser o pretexto para a fraqueza de suas convicções, nem para a fuga indiscriminada de uma realidade micronacional para outra.

Essa transitoriedade, aliás, essa volatilidade das microcidadanias precisa ser repensada. É preciso que saibamos identificar, de forma concreta, nossa micronacionalidade. Quem serve a dois senhores, serve a nenhum, e o mesmo vale, creio, aos países. Assim, deixo esta discussão que não se esgota, mas prossegue como um questionamento ético, moral mas, acima de tudo, nacional. A lusofonia precisa, urge por compromisso, e esse não pode coexistir onde a lealdade seja apenas um discurso, e não uma prática inconteste.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina