quinta-feira, 31 de maio de 2018

Os caçadores de títulos no leilão da lealdade

Lembro de um filme chamado "Caçadores de Obras Primas", pois no micronacionalismo, se poderíamos criar um seria o "Caçadores de Títulos". Ao longo de mais e 16 anos neste fantástico hobbie, não me supreendo mais ao ver um autêntico "leilão da lealdade" promovido por muitos micronacionalistas e, pasmem, até por líderes micronacionais.

Contudo, a situação mais grave é, sem sombra de dúvidas, o leilão de coroas, ou seja, a forma como alguns micronacionalistas agem,buscando, ainda que pela porta dos fundos, conseguir o título de rei disso ou daquilo. Contudo, vale perguntar: suas coroas sobrevivem ao ímpeto de sua megalomania?

Reparem que na ampla maioria dos casos - e sim, isso pode ser afirmado - micromonarquias que são oriundas desse tipo de micromonarca são, em geral, instáveis e essencialmente efêmeras. Mal passam um ou dois anos, algumas nem sequer um ou dois meses. Mas convenhamos, como poderiam sobreviver? O modelo micromonárquico exige a solidez do monarca, e a confiança sobre a Coroa que ele ostenta. É improvável que algum súdito leve realmente à sério um trono que se fez à base de conchavos, ou de megalomania.

Pensando um pouco em Aristóteles, uma qualidade da monarquia é a Honra, mas que honra existe em uma Coroa advinda de alguma maquinação palaciana? Que honra podemos observar em um rei de ocasião, que nem sequer tentou, de fato e por meses, dedicar-se à causa de um país? Como pode haver honra em uma Coroa cujo laureado muda de micronação como um chimpanzé muda de galho em uma árvore?

Enfim, são coroas de papel aquelas que se constituíram nesse leilão de lealdades, ou que são reflexo de megalomania expansionista que nada faz, senão aplacar, talvez, um profundo problema de autoestima, talvez ultrajada macronacionalmente e que, no micro, busca sua redenção. Sim, é cruel, mas dessa forma não há como uma micronação prosperar anos a fio.

É preciso e urgente um exame de consciência sobre o quão necessário é que uma Coroa lhe recaia sobre a cabeça. Afinal, espera ser chamado Majestade por algum tipo de prazer narcisista ou entende, de fato, que mesmo no micronacionalismo coroas pesam e, no mais das vezes, cobram um alto preço de seus detentores, que quer queiram, quer não, perdem boa parte da liberdade de expressão em razão do cargo que ocupam?

Não é mais possível chancelar ou dar crédito a micromonarcas de ocasião, que transformam uma coroa micronacional em verdadeiro produto de feira, tirando dela não só a dignidade mas, sobretudo, a responsabilidade. O micronacionalismo não pode mais coadunar ou mostrar qualquer simpatia a tal fato que, não raro, depõe contra toda a essência da prática micronacional.

É bem verdade que uma das belezas deste hobbie é poder escolher sua pátria, porém isso não significa dar chancela a rifá-la como se fosse um quilo de bananas em uma feira. Que fique claro: a autoridade e a dignidade de uma Coroa não são negociáveis e nem sequer hereditárias, elas são conquistadas com o árduo trabalho que algumas cabeças douradas nem sequer sonham ou mesmo que jamais suportariam.

É preciso que esse leilão acabe, e para que ele tenha fim é urgente que qualquer micronacionalista, com um mínimo de amor por este hobbie, não estimule tal prática, que não mantenha um cidadão às custas de comprá-lo com um título, e que não dê crédito a uma nação cuja coroa não sustenta sequer o seu próprio peso.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Casa Peregrina