domingo, 28 de junho de 2009

Esquecendo definições micronacionais

Micronacionalismo. Não foram poucas as vezes em que tantos tentaram definir a forma geral de seu exercício. Vã tentativa. Não se trata esse hobbie de um conceito absoluto e inquestionável, não há afinal apenas um e tão somente um modelo micronacional mas, antes, vários. Ainda que consideremos raízes micronacionais, para o caso de nações que surgem a partir de outras, também poderemos verificar especificidades que tornam cada Estado, único.

Dessa forma, considero que estaríamos comentendo um erro primário, ao afirmar que seja possível estabelecer, com certeza, o modus operandi do micronacionalismo. Suas inúmeras nuances cintilam numa infinidade de possibilidades que se entrecruzam formando novas e inesperadas estruturas micronacionais. Isto posto, cabe afirmar que a multiplicidade de modelos em atividade e já extintos, aponta na direção de que o micronacionalismo, mais do que ser representado por pontos convergentes, se estabelece numa lógica de verdadeiras linhas paralelas.

Se partirmos do pressuposto de que o hobbie micronacional pode ser entendido na forma de uma ciência humana, e que, portanto, se realiza no campo da inexatidão e do caótico, seu exercício pode ser discutido sob o ponto de vista que, nele, não há previsibilidade. É neste ponto que encontramos, creio, aquilo que faz dessa atividade algo inebriante ao tempo que, como disse-me um colega, também o faz “algo para poucos”. A atividade micronacional requer antes de mais nada imaginação, fonte para o curioso gênio criativo do micronacionalista.

Outro ponto a ser considerado no debate sobre a natureza do micronacionalismo é o desejo pelo confronto. Talvez seja esse espírito de embate intelectual que move a formação de novas estruturas micronacionais. A questão que se interpõe nesse caso, como uma lança a atravessar nossas consciências, é até que ponto tal confronto terá uma natureza salutar, como formador de novas estruturas e quando ele se torna apenas e mera discussão pessoal e ofensa à dignidade individual e coletiva.

Ao contrário do que possamos imaginar, acredito que vivemos a adolescência do micronacionalismo lusófono. Como é de se imaginar em tal fase, o desejo pelo confronto amplia-se a níveis perigosos, o que é preciso observar com atenção. Porém, há algo de interessante na adolescência, trata-se, afinal, de uma fase de duro amadurecimento, onde o indivíduo deve fazer escolhas sobre seu ego. Indefinições clamam por serem sanadas, eis aquilo a que poderíamos considerar nossa primordial tarefa nesse momento: definir escolhas.

Por fim, mais que lançar-se a busca inglória por uma definição absoluta para o micronacionalismo, devemos esquecer todas as definições anteriores e criar algo novo, algo que seja minimamente plausível num ambiente que se propõe crítico mas que vive, hoje, uma crise de consciência. Temos um dever para com este hobbie, o de mantê-lo vivo em toda sua pluralidade, livre de amarras, longe de conformações, pleno de indagações sérias, úteis e desafiadoras.

Labrus Peregrinus.
Patriarca da Família Peregrina.