domingo, 7 de abril de 2013

No tempo em que tenaz, não era apenas uma marca de cola…

A lusofonia é realmente um universo paralelo, para bem ou para o mal. Ela contém todo tipo de excentricidade, de fato nosso grupo micronacional é surpreendente. Longe de ser previsível, portanto, cada novo dia é uma nova surpresa e a cada nova surpresa um novo efêmero paradigma. Efêmero? Sim, pois nada muda tão rápido quanto muda nessa nossa vã lusofonia. Mas calma, não estou sendo apocalíptico, apenas provocativo.

Vejo nações surgirem e desaparecerem – e foram muitas, realmente, nos últimos 11 anos –, vi súditos e cidadãos de várias nações jurando lealdade num dia, e arrumando as malas no outro, vi golpes, traições, guerras, paples, tratados de toda sorte – alguns duraram dias, outros meses, poucos anos e muitos simplesmente não duraram. Enfim, o missal que podería discorrer sobre a efemeridade da prática micronacional lusófona, poderia render um bom enredo para um cruzamento de novela mexicana com vale à pena ver de novo.

Ok, comecei venenoso e irônico essa crônica, mas convenhamos, chega um momento em que é preciso colocar o dedo na ferida e mais, apertá-la. Digo isso por que em certo aspecto percebo com perturbadora clareza que a lusofonia vive o momento atual, de um quase “auto ostracismo” por uma ação própria, ou melhor, uma inação. Padecemos de compromisso, de entusiasmo e tenacidade. Pense quantos projetos surgiram em sua Nação, prometendo mundos e fundos e no entando, por falta de engajamento, caíram no mais soturno esquecimento.

Gosto muito da palavra entusiasmo, pois sua origem está em algo como “possessão divina”, ou seja, diz-se que alguém tem entusiasmo como se tal indivíduo tivesse, dentro de si, uma centelha ds deuses. Talvez nos falte essa chama, essa consciência de que não somos apenas criaturas, mas também criadores, pequenos deuses mortais que entre erros e acertos são capazes das maiores ignonímias e das maiores maravilhas num exercício diário e magnífico de um sagrado livre-arbítrio.

Então, como podemos desistir tão fácil de nossos projetos micronacionais? Seria talvez por que no ambiente virtual não precisamos, ao abandonar algo, enfrentar aqueles olhares reprovatórios? Afinal, como se diz, “o que os olhos não veem, o coração não sente”, não é mesmo? Ou será porque desde o princípio é falso nosso comprometimento e chamamos este ou aquele de “amigo” porque é conveniente, muito mais do que sincero?

Seja como for, se no micronacionalismo nos é abundante a retórica, muitas vezes insuportavelmente verborrágica, nos é ausente a tenacidade. Nos falta ainda aquela fibra, aquele valor, aquele entusiasmo. Um dia, ser tenaz significava ficar e lutar, enfrentar nossos fantasmas por que nossos sonhos e projetos estavam acima de seus perigos, éramos navegadores de um vasto e tenebroso oceano que, teimosamente, enfrentavamos tempestade após tempestade pela simples crença de que valia à pena. Hoje, infelizmente, parecemos ter chegado ao ponto de que Tenaz, enfim, virou apenas marca de cola, apenas uma referência a um material escolar.

Ah essa admirável lusofonia nova…

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina