sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

No tempo em que lealdade e honestidade não tinham medida...

No micronacionalismo tudo parece, por vezes, se tornar mais mecânico do que se imagina. Mesmo quando ocorrem aquelas discussões mais acaloradas, onde a impressão que se tem é que se um pudesse, enforcaria o outro com o cabo do mouse, ainda assim há qualquer coisa que nos escapa neste inebriante, mas as vezes também alienante, hobbie.

A prática micronacional envolve elementos formacionais de grande importância, e é capaz de agregar novos e interessantes conhecimentos ao micronacionalista. Eis a parte boa. Porém, o que acontece quando mecanizamos todo o processo, pretensamente seguros pela anonimidade quase cínica da Internet? Nesse momento, caro leitor, é que entramos num tipo de limbo que cresce nas entranhas desse hobbie há tempos: a deslealdade.

Veja, não vamos nem muito ao céu, nem muito ao inferno, apenas ao ponto que nos permita fazer uma crítica minimamente razoável a algumas debilidades do hobbie. Nesse sentido, imagine o quão complicada é a construção de sentimentos como lealdade e confiança entre pessoas que estão interligadas por centenas de milhares de quilômetros de cabos, mas sem nunca terem acesso ao famoso "olho no olho". É mais fácil trair quando não se sabe, ao certo, a quem. Mais ainda, é muito mais "inconsequente" enganar o que não se vê.

Assim, o elemento primordial pelo qual se dá a prática micronacional hoje, a Internet, ao tempo que aproxima pessoas milhares de quilômetros distante, também transforma uma enganosa anonimidade em um veneno que a ninguém serve. Ao contrário, envenena a vítima e o, por assim dizer, agressor.

Pense quantas vezes você ouviu coisas do tipo: "-Ah, fulano é honesto demais!"? Ora, será que honestidade e lealdade possuem níveis? Não serão afinal conceitos absolutos. Podemos dizer sem medo que não se pode medir um valor como honestidade ou lealdade. Ninguém é mais ou menos honesto, ou se é, ou não. O que varia é o conceito de moral e ética, os quais amplamente discutidos pela filosofia por exemplo.

Assim, caro leitor, nos cabe hoje, neste ambiente virtualmente cada vez mais interacionista, discutir o micronacionalismo não do ponto de vista de uma coleção infindável de leis, tratados e articulações políticas. É preciso que recoloquemos este hobbie ao patamar que lhe é natural pelo óbvio ululante, ou seja, como uma prática de interação social sofisticada, onde você não está falando com uma máquina, mas com outra pessoa, distante quilômetros de você, mas com medos, alegrias, tristezas e esperanças como as suas.

Há muito mais coisas que nos aproximam, do que coisas que nos separam, basta apenas parar e pensar calmamente para perceber isso. Portanto, micronacionalista, trate a seu colega como outro ser humano, faça dele um aliado pela semelhança mais do que um inimigo pela inabilidade em tratar a diferença. Já dizia Blaise Pascal (1623 - 1662) que "O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende". Então se permita conhecer e si e ao outro. Acreditem, com um pouco de boa vontade, espírito racional e humanidade, a lusofonia sairá das fraudas para uma ampla e saudável maturidade.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Família Peregrina