terça-feira, 28 de julho de 2015

O indivíduo e o fanático no Micronacionalismo

O micronacionalismo é um ambiente onde a força de um único indivíduo é substancialmente potencializada, se comparado ao universo macronacional. Aqui, um único cidadão pode ser o começo da glória ou, igualmente, da ruína de um projeto micronacional. O micronacionalismo é um dos poucos espaços sociais onde uma só pessoa pode vir a ser o fiel da balança, para o bem ou para o mal.

De modo geral, a prática micronacional, realizada na ampla maioria das situações em ambiente virtual, priva o tête-à-tête, pelo que fica mais “simples” o enfrentamento e até a manutenção deste. Nâo há o inquebrável contra-argumento do olhar ou a força da entonação vocal. O debate é feito com horas de diferença entre uma mensagem e outra, não ocorre ao calor, com a troca rápida de ideias. É possível ter tempo para construir uma argumentação contrária.

Seja como for, o poder da individualidade no micronacionalismo é tamanho, que em alguns casos o interesse nacional é quase que totalmente suplantado por uma rixa pessoal. As razões de Estado são deixadas de lado em função de uma razão pessoal, o que, não raro, é o princípio da ruína de uma micronação. Já escrevi em outros momentos que, na lusofonia, para muitos, a diplomacia ainda é feita a tapas. Terrível erro de estratégia de quem o faz.

Assim como há grande valor nesta fantástica atividade, o micronacionalismo também tem dentro de seus quadros o personalismo tacanho, a mediocridade construída por nada além do que um ódio infantil, destilado em cada mensagem como se fosse indignação ou revolução. O ódio ao contrário da concórdia, o atraso criando obstáculos ao progresso da Nação pelo mero capricho daquele que, de braços abertos, entregou-se à neurose psicótica de que tudo o que outros fazem é contra ele, contra seu país e que é, tal indivíduo, o único portador da verdade, da liberdade e da decência. Nada mais indecente do que tal comportamento.

O intelectual israelense Amoz Oz, em palestra proferida em 2002 contemplando o tema do fanatismo, disse:

”(…) A trai­ção não é o reverso do amor: é uma das suas opções. Traidor, julgo, é quem muda aos olhos daqueles que não podem mudar e não mudarão, daqueles que detestam mudar e não podem conceber a mudança, apesar de quererem sempre mudar os outros. Por outras palavras, traidor, aos olhos do fanático, é qualquer um que muda. E é difícil a escolha entre converter-se num fanático ou converter-se num traidor (…)”

Ainda aproveitando o discurso de Amoz Oz:

“(...) Digo que a semente do fanatismo brota ao adotar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos (...)”

Enfim, o fanatismo de um indivíduo é algo que pode causar tal dano no macromundo que, no micro, esse dano é mais do que multiplicado. O fanático micronacional que sai elegendo inimigos pessoais à revelia dos interesses nacionais não é um herói ou defensor. Ele é, antes, o inimigo público número um do país, da lusofonia mas, sobretudo, de si, ainda que ele jamais venha a perceber isso, e infelizmente, não perceberá.

Labrus Peregrinus
Patriarca da Dinastia Peregrina

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